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DIETA CETOGÊNICA

 

      Para quem não se interessa pela ciência das coisas, já adianto: este artigo não é para você. Entretanto, para quem gosta de entender o “porquê” e “como” das coisas, recomendo que continue lendo.

      Com uma alimentação normal, seu corpo usa a glicose como combustível padrão. Tudo funciona perfeitamente bem. O cérebro dispõe de glicose suficiente para funcionar a 100%, seus músculos têm generosas reservas de glicogênio e seus rins não estão sendo sobrecarregados com remoção de uréia do sangue. O corpo requer apenas 50 gramas de carboidratos/dia para não entrar em cetose, ou seja, apenas 200 calorias (um grama de carboidrato = 4 calorias). Fato bastante notável levando em consideração que o cérebro sozinho consome de 140 a 150 gramas de carboidratos/dia. Na ausência de carboidratos – ou com ingestão muito restrita – o corpo “pensa” que o alimento está indisponível. Mesmo numa dieta cetogênica hipercalórica (ingerindo mais calorias do se que gasta) o corpo ainda “pensaria” estar sem seu alimento. Na realidade, é o cérebro que está “com fome”, pois ele leva algum tempo para se adaptar à utilização de outras fontes de energia. Os corpos cetônicos – metabólito resultante da degradação dos lipídios – só serão usados quando sua concentração plasmática for extremamente alta. Isso acontece porque eles não atravessam a barreira sangue/cérebro (hematoencefálica) muito facilmente.

      Há apenas duas substâncias com relevância para nossos propósitos que podem ser convertidas em glicose: glicerol e proteína. Lactato também, mas essa substância não tem importância suficiente para ser levada em consideração.  Após uma proteína ser quebrada e reduzida aos seus aminoácidos constituintes, ela entra no ciclo de krebs em diferentes lugares. Algumas dessas moléculas possuem três carbonos e algumas vão eventualmente transformar-se em ácido pirúvico, que também é uma molécula de três carbonos possuindo, assim,  o “esqueleto” molecular apropriado para, como também o glicerol, fazer  essencialmente o caminho reverso da glicólise (que é a quebra de uma molécula de glicose em duas de ácido pirúvico), resultando em uma molécula de glicose (que possui seis carbonos).  Glicerol é uma molécula formada por três átomos de carbono e é exatamente isso que o ciclo de krebs está “procurando” quando se está entrando em cetose.

 

Mas de onde está vindo o glicerol?

      Simples: a gordura é formada por três ácidos graxos e um glicerol. Já que os ácidos graxos não podem fazer o caminho reverso da glicólise, algo tem de ser feito com eles quando são separados do glicerol. Eles são, então, quimicamente convertidos em acetil-CoA (confie em mim, a complexidade deste processo torna proibitivo tentar explicá-lo neste artigo) e prosseguem pelo ciclo de Krebs, ou ciclo do ácido cítrico. Um bom número destas acetilas são metabolizadas completamente, produzindo ATPs (=energia). Entretanto, uma porção considerável não prossegue todo o caminho através do ciclo de krebbs. Há um excesso de acetil-CoA gerado pela oxidação da gordura, pois o ciclo de Krebs não funciona rápido o suficiente. Este acetil-CoA excedente é “empacotado” na forma de corpos cetônicos pelo fígado, que é o único lugar do corpo que os produz.  A função primária dos corpos cetônicos é, obviamente, servir de combustível, fazendo o papel que normalmente cabe à glicose. Entretanto, uma vez que a concentração de corpos cetônicos no sangue ultrapassa um certo limite, o organismo não consegue mais utilizá-los com eficiência (certos tecidos literalmente não conseguem utilizá-los eficientemente em quaisquer circunstâncias). O resultado disso tudo, é que acabam sendo removidos da corrente sangüínea e posteriormente são excretados.  Os experts no ramo da nutrição vão lhe dizer que dietas cetogênicas causam perda muscular.

 

 

      É importante notar que, para uma proteína ser usada como combustível, é preciso desaminar seus aminoácidos constituintes = isso significa que o grupo amina deve retirado. O problema é que esse grupo contém nitrogênio, o qual converte-se quimicamente amônia (-NH3) que, dentro das células, significa apenas uma coisa para seu corpo: perigo. Essa amônia é convertida em uréia pelo fígado, sendo tóxica também, mas em uma proporção menor. A uréia, por sua vez, é filtrada pelos rins e excretada na forma de urina. É devido ao aumento na produção de resíduos tóxicos que se torna necessário urinar mais frequentemente. Isso tudo,em combinação com o fato de o glicogênio armazenado nos músculos existir numa proporção de 1/3 com a água, e que, após ser utilizado, o músculo perde essa água, dá uma idéia das proporções do problema. Beber grandes quantidades de água é imprescindível para evitar desidratação.
      Um motivo pelo qual a dieta de Atkins tornou-se popular tão rapidamente foi porque na primeira semana perde-se peso muito rapidamente por desidratação. Também se consegue isso com diuréticos. É essencialmente a mesma coisa que acontece nos dois casos.

      Sabemos que a cetose é um fator coadjuvante no processo da perda de peso, mas é importante lembrarmo-nos de que a relação consumo/gasto de energia é o verdadeiro determinante. Deixando de comer carboidratos, mas se mantendo numa dieta hipercalórica, não haverá diferença alguma: você ganhará peso. A cetose não é o paraíso da gula, pois ainda está sujeita às leis de conservação de energia.

      Novamente, vale lembrar que seu corpo sempre preferirá glicose a corpos cetônicos como combustível. Deste modo, os tecidos que não usam corpos cetônicos com eficiência terão sua performance comprometida. Esse é um problema especialmente relevante em nosso caso, pois os dois tipos de tecido que não se dão bem com os corpos cetônicos são exatamente os cerebrais e os esquelético-musculares. O cérebro vai encontrar um jeito para funcionar, quanto a isso não tenha dúvida, mas não em sua capacidade máxima. Você ficará meio dispersivo. Apesar de um problema em potencial, isso não chega a ser grande empecilho. As reações serão mais lentas com certeza, mas provavelmente não a ponto comprometer a maioria das situações. A ineficiência com que os músculos utilizam os corpos cetônicos será notória. Na academia, sua performance será lastimável. Não será possível levantar o mesmo peso de sempre.

      A beleza das variantes da dieta cetogênica (como a “Bodyopus”, a “The Anabolic Diet” e a “Animalbolics”) é permitirem um período de “recompensa” com carboidratos após um certo tempo em cetose, ou seja, você não se sentirá tão desanimado, pois haverá uma luz – feita de carboidratos – no fim do túnel. Enquanto alguns efeitos colaterais afligem apenas populações restritas de indivíduos com problemas de fígado ou rins, há um outro  efeito que pode ser considerado universal. As fibras, normalmente de modo mascarado, sempre estão presentes nos alimentos que contêm carboidratos e têm como função dar volume ao bolo alimentar, o que induz a peristalse, que é a contração do seu intestino para “empurrar” a comida. Esse é um modo muito refinado de dizer que você provavelmente vai ficar muito constipado se não usar suplementos com fibras para manter o intestino funcionando normalmente.

      Nunca encontrei um indivíduo que não estivesse completamente miserável nesse tipo de dieta, pois o corpo está sendo colocado numa posição muito desconfortável. Haverá uma vontade desesperada de consumir carboidratos. O cheiro de pão parecerá o melhor perfume já inventado. Em suma: será horrível. Entretanto, a recompensa é uma recomposição corpórea mais radical que com qualquer outro tipo de dieta conhecida.

 

Perguntas Freqüentes sobre a Dieta Cetogênica:

 

É preciso estar em cetose para perder peso?

Não. Para perder peso deve-se apenas consumir menos calorias do que se gasta. Quando a maioria das pessoas diz que quer perder “peso”, na realidade referem-se a perder gordura. Muitas dietas reduzem o consumo calórico tão drasticamente que uma grande quantidade de músculo é perdida junto com a gordura. Isso também reduz a taxa metabólica, o que facilita a volta de toda a gordura.

 

É possível perder peso com a presença de carboidratos?

Sem dúvida. Lembre-se: é a equação “energia ingerida menos energia gasta” que define se haverá ganho ou perda de peso.

 

Quais são os sintomas da cetose?

Os sintomas podem variar de pessoa para pessoa. Muitos sentem mudança no odor da urina e do hálito, que passam a ter um cheiro de acetona. Tipicamente, pode acontecer enjoo, fraqueza, tremores, desidratação devido à diurese (lembre-se: você perderá o glicogênio que sempre esté associado a moléculas de água, por isso suas idas ao banheiro serão aumentadas), alteração de humor, cãimbras musculares, dores de cabeça, tontura e sonolência. Cuidado! Lembre-se que o combustível de seu cérebro é a glicose e ele não "funcionará" direito na sua ausência, por isso, são muito frequentes os desmaios por hipoglicemia. É o seu corpo gritando para parar.

 

Quanto peso se perde em média?

Na primeira semana há uma grande perda de peso, que é basicamente água e glicogênio.

 

E então? Será que vale a pena arriscar-se em uma dieta dessas? Acredito que não! Você consegue excelentes resultados (exceto em casos de obesidade mórbida), com reeducação alimentar. Que tal começar com um detox via modulação metabólica? Leia mais clicando aqui.

 

 

 

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